quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Pós-greve de jornalistas. Dias de tormenta.


Reproduzo a seguir texto postado hoje pelos integrantes do movimento grevista do Diário do Pará e DOL, deslanchado em setembro de 2013.

Pelo que sei, a única greve de jornalistas no Pará foi na década de 1980. Seguramente isso não significa que a categoria estivesse bem das pernas, sem motivo para se valer deste direito constitucional. Tampouco significa que os operários da informação estivessem utilizando outros recursos para negociar com os patrões e fazer frente a condições deploráveis de trabalho, e que estão mais pra lá dos salários. Lamentável. De todo modo, esse cenário torna o movimento paredista recente extremamente do ponto de vista histórico. Ainda que eu tenha minhas críticas, já reveladas publicamente aos colegas, quanto a algumas táticas que se valeram durante o processo, estive sempre, explicitamente, apoiando a greve.

Os dias que se seguem após a greve têm sido cada vez mais vexatórios para o grupo de comunicação da família Barbalho. Rolou a dança das cadeiras na Redação, seguida da demissão paulatina de cada um que fez parte da greve. E uma demissão digna de indignação: os jornalistas denunciam que chegam para trabalhar e são recebidos na Recepção com a carta de demissão! Hoje foi mais um desses dias.

Eu aposto que este é um momento privilegiado para retomarmos um processo que há muito está abandonado. Enquanto as faculdades cospem cada vez mais novos jornalistas para o mercado, perdemos a capacidade de nos tornarmos críticos do nosso próprio cotidiano e da nossa atividade; abandonamos a condição de nos tornarmos fortes quando abrimos mão de nos politizarmos, o que obviamente não significa partidarizar nossas reflexões!

Espero que aproveitemos a ocasião para voltarmos a nos unir, a criar uma rotina de organização e de formação política. É fundamental para nós, enquanto categoria, e precioso para a sociedade da qual fazemos parte.

No mais, deixo minha solidariedade aos colegas e minha expectativa de que outras categorias possam se unir à causa.


"A arbitrariedade não cessa no grupo RBA. Lideranças do movimento paredista organizado na redação em setembro do ano passado, os jornalistas Elias Santos e Thamires Figueiredo foram demitidos esta tarde na recepção da empresa. Já são nove demissões ocorridas nas mesmas circunstâncias desde o fim da estabilidade firmada em acordo coletivo. Durante o estado de greve, outro jornalista já havia sido desligado - uma clara tentativa de intimidação à categoria que não recuou.

Elias Santos atuou como repórter em diversas editorias do Diário do Pará durante dois anos e meio. Nos primeiros seis meses, foi privado pelo Jornal - que se auto intitula o maior do Estado – do direito básico de qualquer trabalhador: a carteira de trabalho assinada. O mesmo aconteceu com Thamires, que iniciou sua trajetória na empresa como estagiária e trabalhou durante sete meses sem nenhum registro na carteira profissional.
Cansados das precárias condições de trabalho, Elias e Thamires ajudaram a organizar uma greve vitoriosa que terminou com a conquista de um reajuste salarial que chegará a 50% no próximo abril, aquisição de equipamentos de segurança como coletes a prova de balas e, acreditem, papel higiênico e sabonete nos banheiros.

Na última segunda feira (3), em audiência trabalhista que julga o grupo pela prática de assédio moral, a empresa disse que a demissão dos jornalistas representa um corte de gastos natural, sem relação com a Greve Diário/DOL.

A empresa não pode deixar de assumir que todos os profissionais demitidos participaram ativamente do movimento paredista e que já houve substituições com a contratação de novos jornalistas. Apesar da prática repetida nesta tarde, o Grupo RBA negou à Juíza que as demissões se deem de maneira vexatória no hall de entrada da empresa. O argumento é de que, costumeiramente, uma sala anexa à recepção do Diário do Pará seja utilizada para demissões e contratações. Apenas para esclarecer, lembramos que os dez jornalistas demitidos até aqui assinaram os documentos referentes à contratação no departamento de Recursos Humanos localizado no segundo piso da empresa. Não há sala anexa à recepção.

É inadmissível que qualquer empresa esconda-se por detrás de uma política revanchista. O grupo RBA sustenta-se, hoje, sobre a égide do terrorismo e da perseguição praticados contra os trabalhadores que participaram do movimento legal que foi a greve dos jornalistas. Essas demissões são uma tentativa mesquinha de calar quem pôs o dedo na ferida e mostrou ao Brasil inteiro como uma das famílias mais poderosas do país trata seus trabalhadores. Lamentamos que dia após dia os Barbalho, obrigados pelos trabalhadores a oferecer mais dignidade aos jornalistas empregados, ratifiquem perante a sociedade sua postura autoritária, tacanha e anti democrática."

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