sábado, 20 de outubro de 2012

Shakespeare atrás das grades I




O cinema é, talvez, a única arte marcada pela presença iluminada de irmãos. A começar pelos pioneiros, os franceses Auguste e Louis Lumière. Depois, a gente pode citar os norte-americanos Coen (Ethan e Joel), os meus queridos belgas Dardenne (Jean-Pierre e Luc), e os espanhóis Almodóvar (Pedro e Augustin - o fiel produtor de praticamente todos os filmes do irmão mais velho).
Mas, neste ano, são os italianos Taviani que nos iluminam a partir de um lugar de trevas. O novo filme de Paolo e Vittorio, César deve morrer (Cesare deve morire) nos leva a prisão de segurança máxima Rebibbia, nos arredores de Roma. Lá, durante seis meses, os Taviani filmaram esta obra-prima, entre ficção e documentário. A base é a peça  Júlio César, de Shakespeare, encenada por condenados.  O processo de ensaios, a transformação dos presos em seus personagens no palco, tudo vai se misturando de maneira magistral, em construções baseadas,, sobretudo, na montagem e na trilha sonora. O crítico do JB, Gabriel Medeiros, definiu muito bem a não-intenção dos mestres italianos: "O que difere e coloca César Deve Morrer um patamar acima das outras centenas de filmes que misturam as linguagens ficcional e documental, é que os diretores do filme não parecem, em nenhum momento, dar a mínima para isso. Não dão a mínima para a dita "veracidade" documental dos planos, pois isso não importa. O que está em jogo, desde o início do filme, é a força de uma obra de arte e o seu poder transformador.".
Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano e com mais 5 prêmios David de Donatello (o Oscar italiano), Cesar deve morrer é o candidato a  representar a Itália no Oscar 2013.
Uma aula magistral de cinema de Paolo, 83 anos de idade, e Vittorio, 81. Os mestres que já nos  haviam brindado com A Noite de São Lourenço (prêmio especial do juri em Cannes 1982) e Pai Patrão (Pama de Ouro e prêmio da crítica em Cannes 1977).
Longa vida aos Taviani!