sábado, 29 de setembro de 2012

Socos preenchendo o vazio


Ontem à noite revi em DVD o cultuado e polêmico filme Clube da Luta (1999), de David Fincher.
O thriller, com Edward Norton e Brad Pitt, foi um fracasso (relativo) nas telas, obtendo, no entanto, enorme sucesso após o seu lançamento em DVD, tendo inclusive gerado uma enxurrada de teses e dissertações nos meios acadêmicos americanos.
Por surfar no perigoso e violento tema da crítica de costumes da geração consumista e hiper-conectada do final do século passado, tema este, por sinal, ainda atualíssimo, a película inspirou atentados pelo mundo, inclusive no Brasil (um estudante de medicina metralhou a platéia que assistia ao filme em São Paulo, em 2002, matando três pessoas e ferindo mais quatro).
Nesta minha segunda incursão ao filme, talvez por ter lido recentemente o livro homônimo que o inspirou, de Chuck Palahniuk, não consegui identificar sequer traços de uma suposta apologia franca à violência e à intolerância, tão criticada pelos detratores da obra.
Clube da Luta põe um dedo direto na ferida ocidental, seja como filme ou como livro, atingindo em cheio o psiquismo dos mais variados tipos de pessoas. 
Comprar itens desnecessários, usar drogas lícitas ou ilícitas, frequentar grupos de auto-ajuda, bater e/ou apanhar, ou mesmo pagar para assistir lutas de MMA na televisão por assinatura, podem ser sinais e sintomas de uma síndrome psicossocial degenerativa tão poderosa, e ainda assim imperceptível para a maioria de nós. Seria algo como a "Síndrome do Vazio Ocidental Progressivo", num neologismo improvisado, e Clube da Luta nos mostra que somos vítimas reais ou virtuais desta "doença".
Mas filme cult é cult: ame-o ou odeie-o, com fervor e paixão, mas sinta algo forte por ele!

PS1: a atuação do cantor/ator Meat Loaf neste filme é extraordinária.
PS2: até hoje grupos de homens de cabeça raspada e vestidos de preto entoam em bares americanos o mantra do Projeto Caos, mencionado no filme: "his name is Robert Paulson!".
PS3: filme e livro têm finais totalmente distintos - vale a pena conferir.

4 comentários:

ASF disse...

Você só esqueceu de citar o excelente trabalho do Fincher na direção (um dos meus diretores favoritos na atualidade).

Scylla Lage Neto disse...

Na verdade, ASF, faltou mencionar muitas coisas importantes.
O diretor, oriundo dos videoclips, é ótimo - concordo com você totalmente.
A trilha sonora é boa, com destaque para Where is My Mind, dos Pixies, no encerramento do filme - perfeita!
A presença de muitas mensagens subliminares torna o filme mais interessante numa segunda e cuidadosa espiada. Vemos o protagonista Tyler por várias vezes aparecendo por frações de segundo, e achamos inconscientemente que é um defeito de edição, ou algo assim,quando já é uma poderosa dica do restante da trama.
Abraços.

Silvina disse...

Clube da luta é um filme extraordinário. Tenho-o em BD pois queria ver detalhes em alta definição. "Meu" jovem de nome russo simplesmente adora esse filme, no entrando, nunca o vi inspirado a nenhum ato de violência "gratuita", e olha que ele já o assistiu um punhado de vezes. Clube da Luta é sim uma crítica muito bem sacada que recebeu críticas exatamente por esse fato.

Scylla Lage Neto disse...

Silvina, ao meu ver, as piores críticas feitas ao filme mencionam algo como o "efeito devastador das idéias do roteiro em mentes despreparadas".
Pode?!!!!