sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Arroyo, 910

Minha atual conjuntura, especificamente estar morando na Argentina, não me permite fazer lá muitas divagações sobre a atual campanha eleitoral que está nas ruas de Belém, como no Brasil inteiro. Apesar de estar acompanhando as postagens na TL e no face. Por um lado, posso dizer que é uma “forra”. Mas o vício de olhar me persegue.

Este ano de 2012, a Argentina lembrou do atentado fatal à Embaixada de Israel no país, que completou 20 anos, no último mês de março. Campanhas "publicitárias", atos públicos, atividades culturais mobilizaram relativamente a cidade. Mas devo dizer que o que mais me tocou foi o depoimento de um taxista aqui em Buenos Aires. Não tomo tanto taxi por aqui, mas, neste dia, fui buscar minha filha na escola em um deles e, quando informei o endereço ao motorista, foi a primeira coisa que o senhor que me conduzia me disse: Nossa, bem na frente na antiga Embaixada de Israel. Não fez sentido pra mim, de pronto, porque eu só enxergava uma praça na frente do colégio Madre Admirable. Mas era justamente ali naquela praça que funcionava a sede do órgão, na rua Arroyo, 910, no fino bairro da Recoleta. Funcionava ali desde 1950 até às 14h50 do dia 17 de março de 1992. Tudo virou destroços pavorosos, deixando 29 mortos e dezenas de feridos, entre funcionários, vizinhos e transeuntes. Que olhar desatento o meu, não? Eu só via uma praça dedicada à triste memória.

 Antiga sede da Embaixada de Israel, que virou pó

 Detalhes do que sobrou do prédio tombado na explosão do carro bomba

 Raspas e restos nos interessam?

 O inverno portenho torna detalhes da arquitetura mais desoladores

 A praça mantém restos do prédio que ruiu

 Corredor de árvores na praça

 Alguns prédios vizinhos da Embaixada

Aquele senhor sabia bem do que falava, em especial porque me disse que naquele preciso dia havia deixado um funcionário da Embaixada no mesmo endereço. Nem eu nem ele temos qualquer apreço pela posição política de Israel, muito pelo contrário. Mas como aceitar tamanha violência? E tamanha violência em tempos de tantas ferramentas de negociações (pelo menos em tese). Foi apenas há 20 anos! Eu tinha exatos 15 de vida em 1992. E não me lembro de ter me impactado tanto naquela época, em Belém. Ou mesmo de ter me informado sobre. E já estava prestes a fazer vestibular, quando tinha uma densidade de informações sobre geopolítica bem maior que em outros anos.

Daí que volto a um tema que tem sido recorrente a mim desde que vim pra Argentina: acho que circulam pouquíssimas informações no Brasil sobre o que se passa nos países vizinhos. E, olha, que fazemos limite com praticamente todos os irmãos latino-americanos, dada nossa extensão geográfica. Responsabilidade minha? Também. Mas “percuro” e acho quase nada. Acredito que seja mais justo compartilhar essa irresponsabilidade.

Com este aperto no coração, resolvi fazer algumas imagens dessa que, um dia, foi a sede da Embaixada de Israel na Argentina e agora é uma praça, cara-a-cara com um colégio católico...

Que haja espaço para flores... natureza viva

2 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

"Oh, abre o vidro de loção e abafa o insuportável mau cheiro da memória."

Erika Morhy disse...

Marise, teu comentário foi absolutamente indefectível...