segunda-feira, 29 de março de 2010

Nós perdemos o futuro de vista?

Que nós vivemos numa era pessimista, é absolutamente inegável.
A economia global sofre muito, o planeta está superaquecido (acredita-se), respirando os detritos da indústria e a pobreza permanece como uma mancha indelével entre milhões e milhões de pessoas.
A natureza, por sua vez, contribui com desastres naturais sucessivos e de dimensões catastróficas.
Distopia parece ser a palavra-chave. Desastre é mais do que apenas um link.
Ao olharmos para o futuro todos vemos um cenário em destruição, industrializado ao extremo, sujo e esfumaçado, preenchido pela humanidade em implosão, apesar do crescimento populacional desenfreado.
Se permanecermos na trilha atual, o futuro será parecido com o que achamos que vai ser. É quase como se nós, humanos habitantes do planeta Terra, tivéssemos aceitado este cataclisma ambiental, social e humanitário como inevitável.
O que aconteceu com todas aquelas naves espaciais sobre as quais lemos e que vimos na televisão e no cinema? Para onde foi o deleite e o orgulho com os quais sonhávamos a respeito de estações de embarque superlotadas de pessoas prestes a embarcar para mundos novos em direções variadas do cosmo? Nós decidimos que o futuro não nos trará surpresas e as únicas coisas que vemos à nossa frente são o caos e o desastre?
Será que preferimos sonhar com passados especulativos, que nunca aconteceram, do que com futuros que ainda podem existir? Ou que estamos tão afundados no realismo chato e monótono do dia-a-dia recessivo e cada vez mais pobre de nossas vidas?
O fracasso de programas espaciais quase-defuntos contribuiu para isolar os nossos sonhos de um futuro imediato melhor, e de outro mais remoto, pleno de glamour?
O que quer que aconteça, seja o futuro como for, guarde que surpresas guardar para a raça humana, que os dias vindouros resgatem pelo menos parcialmente a celebração e a diversidade dos futuros brilhantes das obras de Isaac Asimov.



P.S.: as idéias aqui expostas surgiram após uma pergunta feita pela minha esposa, no domingo à noite: “você vai ler outro livro de ficção científica”?

8 comentários:

abdias pinheiro disse...

Maninho,
Imagine-se em um cinema do interior de uma cidade pequena e pobre, como sempre, cercada em um curral eleitoral, tendo como 'dono' um coronel fazendeiro ou madeireiro, desses da antida que no presente ainda rendem versos de escárnio, sem compromissos com o futuro, com a preservação... Veja-se caminhando, depois de uma sesseção do filme os Pássaros... sua casa fica a uns duzentos metros da praça central, que adorna a igrejinha de uma torre, sem sino, apenas um chocalho de vaca fugideira, para anunciar a visita da dona morte. Imagine que, ao cruzar a linha do trem, claro, tem trem nessa prosa, como por encanto, veja-se na avenida paulista, bem na frente do prédio da FIESP, nos reflexos envidraçados do grande monumento arquitetônico... Viu tudo isso? Não? Vá com calma. E agora viu? Claro que os pássaros estão te despertando o mêdo. O pânico começa a descer pelas pernas, a escorrer pelas mãos, os sofacos encharcando-se de suor moldando a camisa com figuras abstratas, nascidas sob a proteção do desconhecido. O coração saltitando como bunda em carroceria de toyota bandeirantes, desembestando ladeira abaixo. Tudo isso são referências do que foi um dia na vida de alguma alma nos arredores da nossa cultura. Agora, o quê está pra vir é maior que todos os Alfred Hitchcock juntos numa cessão terminada a meia noite. É a contrução do novo Ser. O fim do materialismo, capitalismo como leme singrando os destino. A nossa casa terra está chegando a idade adulta e por isso acomoda-se, descança sentando-se em placas almofadadas em pedras. A arrogância humana volta ao pó em destroços. Literalmente o material está ruindo. E nós choramos, choramos e muito. As naves já estão voltando, mas desta vez para resgatar as milhares de almas perambulandeiras. Faz tempo nós avistamos sinais...

Bruno Coelho disse...

Os programas espaciais mesmo sendo cancelados não acabam com a pesquisa, a retomada diária dessas idéias revela a percepção de que devemos resolver os problemas existentes aqui ao mesmo tempo que nos aventuramos no espaço.

Scylla Lage Neto disse...

Abdias, espero que você esteja certo e que as naves, ainda que alienígenas, venham dar uma mãozinha a esta raça de gênio difícil, esse tal de Homo sapiens.
Precisamos de resgate, já!
Abs.

Scylla Lage Neto disse...

Concordo, Bruno.
Apenas tenho a percepção forte de que estamos fora do "timing", que perdemos ano a ano, década a década, a oportunidade de atravessar a janela cósmica da exploração espacial.
Enquanto isso, no planeta azul, tenologia e miséria tentam se equilibrar caotica- e perigosamente.
Um abraço.

Lafayette disse...

"Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente." (ìndios - do 'o cara')

Mas, calma Scylla, ontem e hoje tem evento histórico rolando lá em CERN (fiz postagem inclueive sobre isto).

Por outro lado, tem "um mundo" que ainda esperam pela "grande tecnologia" da água tratada chegar, portanto, muito chão se tem para percorrer até o futuro chegar... pra todos!

Scylla Lage Neto disse...

Lafayette, eu gostaria de ter o seu otimismo.
Não em relação ao CERN, mas no que diz respeito ao "tratamento" da miséria mundo afora.
Creio que estamos a anos-luz da solução.

Anônimo disse...

Estamos a beira do abismo nem sequer temos a consciência disso.

A cada dia que passa o homem amplia seu poder de interferir na natureza sem desenvolver uma consciência clara dos efeitos imediatos e de longo prazo dessa capacidade.

A esmagadora maiora das pessoas que habitam esse planeta ocupa-se diariamente apenas com a sua própria sobrevivência.

Uma parte delas vive assim por completa falta de opção e a outra parte por completa incapacidade de viver de maneira diferente. Considerando que para elas exista opção.

Nossa espécie ainda não descobriu uma maneira de suprimir seus instintos primitivos. Eles estão sempre presentes e quase sempre afloram para moldar nossas ações de maneira insuspeita e desastrosa. Na maiora das vezes de nada adiante todo a nossa capacidade racional e imaginativa, o legado de anos de evolução.

Somos um bicho que parece acreditar que não é mais bicho. E eu acho sinceramente que essa pode ser a principal razão da nossa tragédia.

Scylla Lage Neto disse...

Palavras e frases precisas e cirúrgicas, Antonio.
Abs.