sábado, 24 de novembro de 2007

FEBEAPA

De vez em quando se reproduz no Brasil o famoso Festival de Besteiras que Assola o País, o FEBEAPA, criado pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta. Interminável, está na n edição. A última vem do ilustre Ministro da Educação, Sr. Fernando Haddad, que encastoou na oficialidade o seguinte comentário sobre o ensino, quando comentava o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), na Folha de São Paulo:
No dia em que a rede privada for pior que a pública, por definição, ela acabará, já que ninguém vai pagar para receber um ensino que pode obter gratuitamente e com mais qualidade
.
Entende-se por esta afirmação que a escola publica brasileira estará sempre atrás da privada em termos de qualidade, condenada ao fogo eterno da incompetência. Deve-se mandar o ministro ao inferno, pois a escola pública brasileira tem história brilhante, infelizmente fragilizada pela falta de investimentos nos governos FHC que não rubricou recursos orçamentários suficientes para garantir qualidade na escola pública, quando foi realizada a justíssima universalização do acesso a esse direito .
Ao contrário do que o Ministro afirma, a escola privada no Brasil já foi o que a pública é hoje. Na minha geração, e de alguns comentaristas desse blogue, quem dominava era a escola pública. Ninguém queria saber de escola particular, exceto os abonados que buscavam ilhas de excelência, ou aqueles que não tivessem aprovação nas seleções públicas, os expulsos e os reprovados, que sustentavam por exemplo escolas como o Abraham Levy, hoje extinto.
Nessa época, fazia-se prova para ingressar nos cursos ginasial (I grau), fazia-se prova para ingressar nos cursos secundários (II grau), como hoje ainda se faz vestibular para ingressar na Universidade. Cada um de nós fazia, portanto, no mínimo três vestibulares para estudar em escolas públicas. No curso primário, por exemplo, eu estudava numa escola pública e tinha por contemporâneos os filhos do governador do Estado, o Coronel Jarbas Passarinho.
E o resultado está aí. Tenho colegas doutores médicos, mestres, ph.d, pós-doutores, artistas, autoridades nas três esferas de governo do país que desde o primário até a pós-graduação sempre estudaram em escolas públicas, a maioria deles filhos de classe média baixa como eu. Com orgulho posso dizer que todos são excelentes profissionais e funcionários públicos, alguns deles, embora jovens, já reunindo uma importante folha de serviços prestados à nação. O ministro ao invés de raciocinar com regras de mercado deveria se ilustrar sobre o que fala, para melhor dignificar o importante cargo público que ocupa.

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro Oliver,

como já carrego a má fama de ser tucana, esclareço de cara que jamais votei no FHC e tenho dele péssima lembrança desde o CEBRAP! Assim, não vim aqui defende-lo. Mas, é importante recuperar que a destruição da escola pública começou em 1968 (acho que você ainda não tinha nascido! Céus, como estou velhinha!).

O acordo MEC-USAID, que tive a honra e a longevidade para combater e ser derrotada, destroçou o ensino público de qualidade. E veio o AI-5 e destruiu colégios públicos inteiros, cassando professores - pelo menos em São Paulo isso ocorreu e meu colégio foi devastado - e veio o decreto 477 e veio...e veio...e veio.

Cabe a FHC a responsabilidade de não ter priorizado recursos públicos para o ensino fundamental e médio. Mas, por esse crime, ele só vai até o purgatório. Outros já preencheram as vagas do inferno.

Abração.

Gui disse...

Oliver,
eu sou um dos, orgulhosamente, oriundos da escola pública. Mas isso era num tempo em que a educação não era vista como mais uma modalidade de negócio. Aliás um dos mais rentáveis, haja vista o lucro das universidades particulares, comparável ao dos bancos.
Uma outra coisa é que o governo, ao invés de melhorar a escola pública, estimula as particulares, e até as financia através dos "prounis" da vida.

Yúdice Andrade disse...

Oliver, parabéns pela postagem. Devo dizer que passei pela escola pública até o ano de 1989, portanto antes de FHC, de modo que posso atestar o que disse a Bia: nos anos 1980, a escola pública já estava na pior. Naqueles anos, o processo de migração para as escolas privadas já começara. Conheci muita gente que fazia das tripas coração para pagar mensalidade. Infelizmente, minha família não dispunha das tais tripas e fui ficando. Sei o quanto isso comprometeu a minha formação, por mais que eu, pessoalmente, tenha tentado compensar com esforço pessoal.
Creio que um dos grandes pecados de FHC, nesse campo, foi o projeto de fachada "Toda criança na escola", cujo sucesso se media pelo número de vagas matriculadas. Porém, escamoteava-se que faltava aula, faltava professor, material pedagógico e até mesmo escolas, como ainda continua acontecendo, no atual governo. Reportagens recentes mostraram crianças estudando embaixo de árvores e taperas de pau a pique.
Já para estádio de futebol, não falta dinheiro.

Anônimo disse...

Bia tem razão. Eu que junto com Olíver estudamos(65 a 77) sempre em escola pública (Primário - Escola de Aplicação Profa. Serra Freire e Ginásio e Científico - Paes de Carvalho) , posso dizer de cátedra que mesmmo naquela época já percebíamos a decadência da escola pública. O resto todos têm razão.

Antonio carlos Monteiro

Itajaí disse...

É verdade que a ditadura inaugurada em 1/04/1964 fez profundas intervenções no campo da educação. Houve o acordo MEC-USAID, a reforma do ensino, a questão dos excedentes e uma progressivo enfraquecimento da escola pública, com o consequente fortalecimento da escola privada. Nessa fase, o acesso não era universalizado, as verbas escasseavam e aumentava o peso do Brasil de crianças e jovens. Optaram por abrir espaço pelo privado e assim criaram um mercado lucrativo que alcançou os anos da chamada Nova República. Aí é que foi jugulada a escola pública, a partir do momento em que a previsão do direito constitucional (universalidade, descentralização) não se fez acompanhar de investimentos suficientes para a escola pública, lato sensu, desenvolver as prerrogativas que o novo tempo então lhe impunham. Seguiu-se então a desorganização e fragilização da rede, com professores historicamente mal treinados, mal pagos; desestimulados. Esse é o momento que vivemos. Olhando pra trás vemos tudo muito longe e quanto ao futuro vai depender muito mais do movimento social que, ao meu ver, é a única força capaz de fazer o mastodonte da educação brasileira se mover na direção dos interesses da sociedade, resgatando-a como política de estado vinculada ao desenvolvimento do país.
Na verdade precisamos de um Flexner que, nas primeiras décadas do século passado, sem ser ministro de qualquer coisa, apenas um comissionado, provocou uma revolução no ensino médico norte-americano, acabando com as esculhambação que prosperava ali, preparando o país para disputar a hegemonia com o então dominante modelo europeu.