quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A justificativa da estupidez

No clássico existencialista “O Estrangeiro”, do argelino Albert Camus, o protagonista mata um árabe a tiros, na praia, e é submetido a julgamento. No processo, além da absurda motivação do crime – o personagem acusa o brilho intenso do sol de tê-lo agastado a ponto de matar um homem – a personalidade do assassino, na forma construída pela acusação, é mais importante para sua condenação que o próprio ato criminoso.

Ocorreu-me na lembrança o livro quando li que no julgamento dos agentes da Scotland Yard que mataram o brasileiro Jean Charles de Menezes dentro do metrô londrino, por supostamente tê-lo confundido com um terrorista foragido, foi apresentado o resultado de uma perícia que atestou, em exames de urina da vítima, a presença de rastros de cocaína.

Qual “O Estrangeiro” às avessas, parece-me que logo, logo, a morte de Jean Charles será justificada pelo fato de supostamente ter sido usuário de drogas. Sua execução estará como em um passe de mágica motivada, sem que se dê o crédito devido à intolerância e paranóia da polícia inglesa.

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